Publicado por: ithamar | julho 26, 2010

Putz Grill, Oscar Filho e o stand-up.

Antes de assistir PUTZ GRILL, espetáculo de stand-up comedy de Oscar Filho, eu tinha algumas opiniões sobre ele e sobre esse gênero tão em voga ultimamente pelos bares, teatro, tv, festa e nas rodinhas de bate-papo.

A primeira opinião é que eu achava que Oscar era o melhor dos comediantes desse gênero que eu conhecia e após assistí-lo, tenho absoluta certeza disso. Oscar é talentoso, carismático, ágil, rápido, careteiro ( num extremo bom-sentido da palavra ), expressivo, explosivo e tem um estilo pessoal tão diferente dos outros, que até temas que já são meio batidos, trazem uma originalidade particular que imprimem um frescor aos mesmos, que você acaba rindo como se estivesse escutando aquilo pela primeira vez.

A segunda é sobre o gênero em si. Quem me conhece sabe das minhas restrições e minha visão sobre o assunto. E o principal, pra mim, foi constatar que, de fato, um ATOR, leva vantagem no negócio. Sim, porque Oscar não é apenas um comediante. E antes que me acusem de desmerecer a categoria, não é demérito nenhum ser, não é fácil ser, não vai aqui nenhum juízo de valor ou desqualificação. Ao contrário, é uma maior valorização do artista que é mais que um comediante. Pra ilustrar o que quero dizer, Seinfeld pra mim, é um comdiante. Chico Anísio, é mais que isso. Ambos são ótimos, mas Chico vai além.

Oscar tem o “tempo de humor” perfeito. Tem completo domínio da modulação da voz. Da velocidade das palavras. Das pausas. De fazer parecer “sem querer”, aquilo que estava marcado pra acontecer exatamente naquele momento, daquela forma.

Existem grandes comediantes do gênero em ação por aí. Rafinha Bastos, Danilo Gentilli, Claudio Torres Gonzaga, Luiz França, Marcelo Adnet, enfim, alguns, cada um com seu estilo, sua pegada e todos ótimos ( citei aqueles que EU, particularmente, gosto, apesar de saber que existem outros ) e Oscar faz parte desse rol daqueles que eu penso ser os melhores.

E foi assistindo seu espetáculo que me convenci que esse negócio não é pra qualquer um. E que o número de bons comediantes é infinitamente menor do que os “meia-boca”.

Sou taxado de ser alguém que desmerece e desqualifica o gênero. Mas saí do espetáculo com a sensação de quem quem desmerece e desqualifica é esse batalhão de pessoas que saem por aí pegando microfone, arranjando um boteco e achando que estão preparados pra coisa.

Até pouco tempo atrás, o pessoal começava indo a espetáculos do pessoal mais tarimbado, dava uma “canja”. Experimentava num open-mic por aí. Pedia dicas, treinava, mostrava, ouvia palpites. Os próprios profissionais “puxavam” os que tinham potencial pra ter uma participação mais ativa e tal e, aos poucos, acontecia. Surgia um novo talento. Mas agora, meia dúzia se junta na sala de casa, arranjam um barzinho por aí, dão um nome pro grupo e saem fazendo. Sem critério, sem experiência, sem ajuda e, muitos, infelizmente, sem talento.E quando algum desavisado cai numa arapuca dessas ( e a cada dia isso fica mais fácil ), o gênero acaba pagando o pato como um todo. Perdi a conta de quantas pessoas me dizem que “esse negócio de etand-up é uma bosta” por conta de ter sido apresentado ao estilo, por gente desse naipe.

Esses, deveriam assistir Oscar. Assim como deveriam ver Rafinha, Danilo, Adnet, e todos que citei antes. Mas, precisam ver Oscar.

Tive o privilégio de ser o diretor do Risadaria, o maior evento de humor que já existiu por essas bandas e isso me permitiu assistir apresentações de inúmeros comediantes. E ali estava a NATA do humor. Daquele pessoal, não há muito que falar ou criticar. Tirando uma ou outra coisa que não é do meu agrado, todos ali sabiam o que estavam fazendo e sabiam fazê-lo muito bem.

Na equipe que trabalhava comigo e em outra áreas do evento, tinha muita gente que torcia o nariz pro stand-up. Eu perguntava: mas você já viu o Rafinha? Já viu o Danilo? Já viu o Oscar? e, invariavelmente, a resposta era NÃO. Tinham visto o amigo da faculdade, o primo, o grupo que faz perto do barzinho da casa dela etc. Mas, no evento, foram obrigado a ver e, bingo, mudaram de opinião. Perceberam a diferença entre saber fazer e “achar” que sabe fazer.

E foi essa possibilidade de ver toda essa gente bamba que me faz ter a certeza de afirmar que HOJE, pra mim ( vejam bem, é minha opinião totalmente pessoal ), Oscar é o melhor do gênero. E isso talvez seja um exagero pra ilustrar e externar minha opinião. Felizmente posso acompanhar o trabalho da grande maioria e o faço sempre que posso. O que quero dizer é que se minha condição permitisse ver apenas UM deles, seria Oscar. Mas todos que citei, e outros por aí, são ótimos, excelentes profissionais e entendem do riscado.

A terceira opinião, na verdade é um mea-culpa. Sempre disse que jamais faria um stand-up. Minha praia é outra. E também sempre ouço de amigos o porque de eu não fazer “um stand-up”, que eu sou engraçado, conto tanta história, falo “tenta merda”. Mas, minha praia sempre foi outra. Tenho vários personagens, gosto da composição, de usar recursos, de criar vozes, trejeitos, de usar todo o talento que eu pretensiosamente acho que tenho. E não acho que tenha talento suficiente pra fazer um stand-up, portanto, justamente pra não cair na esparrela de sair por aí “achando” que sei fazer, não saio apresentando qualquer coisa.

Mas depois de asssistir Oscar, mudei de idéia. Continuo achando que não tenho o talento suficiente pra fazer um stand-up. Mas estou começando a achar que vale a pena arriscar pagar um miquinho e, pelo menos, tentar…rs… Afinal, muitos desses que me estimulam, são comediantes e mestres no assunto, com espaço e pretígio em vários palcos da cidade. Já que me enchem tanto, vão ter que me dar uma espacinho pra eu ver como me saio nessa história…rs…

E, por último, reconheço que me enganei. Acho que o gênero veio pra ficar ( e posso estar me enganando de novo ), ao contrário do que eu pensava. Mas não comportará esse exército de comediantes que existem e, mais que isso, surgem a cada dia. E reconheço que surgem bons comediantes, que tem muita gente com potencial. Mas pra cada um que surge, tem vários que “não vai rolar”…rs… Não sei se vai demorar muito, se vai ser rápido, mas sobrarão apenas os bons, os que realmente têm alguma coisa pra mostrar. E aos poucos, públicos e palcos, vão começar a selecionar melhor a quem vão abrir seus espaços, ao invés de abrir pra qualquer um apenas pra não perder a “onda”.

Esses que citei, aqueles dos grupos a que fazem parte e mais alguns poucos, terão seus espaços garantidos.

E Oscar Filho, com certeza, estará sempre entre os melhores, com espaços abertos onde quiser.

Se você não foi ver, vá.

PUTZ GRILL – de e com Oscar Filho. Teatro Frei Caneca, sábados, meia-noite.

Valeu.


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